Dentre as diversas ferramentas utilizadas por psicólogos, uma que tem conquistado notoriedade é a chamada avaliação neuropsicológica. Mas o que quer dizer esse tipo de avaliação? Para que ela serve?
O que é neuropsicologia? Qual é seu objetivo?
Para entender a avaliação, precisamos saber o que é a neuropsicologia. Esta é uma interface da psicologia ligada às neurociências, que tem por objetivo estudar cognições e comportamentos decorrentes de disfunções cerebrais (Gil, 2002).
Luria (1981), que é tido como o pai da neuropsicologia, entende que o propósito desta ciência é entender as associações entre as estruturas anátomo-cerebrais e as funções cognitivas, auxiliando clinicamente na construção diagnóstica e na identificação de perdas cognitivas em resultado de lesões, traumas ou outras disfunções no cérebro.
O que é avaliação neuropsicológica?
A avaliação neuropsicológica surge então, como um processo de avaliação detalhada do funcionamento cognitivo, psicológico e comportamental de um sujeito. O seu foco principal é o funcionamento das cognições e sua elaboração é construída em um ambiente controlado, através do uso de técnicas e instrumentos neurocientíficos.
Quanto tempo dura uma avaliação neuropsicológica? E como ela é feita?
Embora o tempo seja variável de acordo com o caso de cada paciente, esta avaliação comumente demanda alguns encontros entre o neuropsicólogo e o paciente, que englobam entrevistas iniciais (anamneses, feitas de maneira detalhada, para que o especialista possa realizar a observação clínica do paciente), sessões de testagem (utilizando instrumentos fundamentados teoricamente, que permitam avaliar funções específicas) e uma entrevista devolutiva (para explicar ao paciente e/ou responsáveis sobre os resultados observados, realizar encaminhamentos e fazer orientações de tratamento).
O estágio da testagem na avaliação neuropsicológica é construído através de uma bateria de testes padronizados e escolhidos para o caso daquele paciente, permitindo a identificação de níveis de performance em diferentes habilidades cognitivas, que incluem funções como linguagem, raciocínio, inteligência, memória, atenção, resolução de problemas, orientação têmporo-espacial, velocidade de processamento, dentre outras.
Os resultados adquiridos são, então, mensurados e avaliados de acordo com tabelas normativas, obedecendo à critérios técnico-estatísticos validados, que sustentam cientificamente a avaliação dos construtos investigados. Somente a partir da observação clínica e da normatização dos dados, o especialista poderá justificar se o desempenho do paciente em uma dada função cognitiva, está dentro, acima ou abaixo da média esperada, assim possibilitando a interpretação dos dados e a construção do laudo técnico.
Então, para que serve avaliação neuropsicológica?
Ainda que a neuropsicologia historicamente seja marcada pela avaliação de pacientes com disfunções cognitivas decorrentes de lesões cerebrais, como nas sequelas de AVCs, doença de Alzheimer, demências, afasias, etc., atualmente os neuropsicólogos atuam com uma variedade além destas, como TDAH, TOD, transtornos de aprendizagem, déficits de atenção, autismo, altas habilidades e outras condições neuropsiquiátricas ou do neurodesenvolvimento.
Além disso, a avaliação neuropsicológica periódica auxilia no acompanhamento do desenvolvimento cognitivo do paciente, possibilitando a identificação de potenciais males ou observando problemas ainda em estágios iniciais, permitindo assim, um rápido encaminhamento para os profissionais que atuam com tratamento e reabilitação, em caso de necessidade identificada.
Uma avaliação neuropsicológica feita de maneira correta, não avalia apenas uma função cognitiva, ainda que esta seja a razão primordial da investigação. Mesmo que imprima maior ênfase nesta função específica, deve avaliar as demais, a fim de evitar falsos negativos e a proposição de hipóteses diagnósticas inconclusivas.
Que profissional deve conduzir a avaliação neuropsicológica?
Atualmente, vários profissionais se dispõem a realizar uma avaliação neuropsicológica. No entanto, é recomendável que você busque um profissional especialista em neuropsicologia clínica, já que este recebe um treinamento especializado na interpretação dos dados e pode construir laudos neuropsicológicos mais completos e contribuir de maneira mais significativa com o seu programa de tratamento ou reabilitação.
Também é recomendável que o profissional escolhido seja um especialista em neuropsicologia reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia na sua localidade. Caso esteja ou venha a São Luís, pode contar comigo!
Por: Thiago Linhares
Psicólogo CRP 22/1834
Especialista em Neuropsicologia
Referências
Gil, R. (2002). Neuropsicologia. São Paulo: Santos.
Luria, A. R. (1981). Fundamentos de neuropsicologia. São Paulo: EDUSP.
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